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Os nomes do fim

Thais Rivitti (em colaboração com Bruna Fernanda e Lucas Goulart)

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[Dezembro de 2024]


Que um sentimento de fim tomou conta do nosso inconsciente talvez não seja novidade. Títulos de exposições, proposições curatoriais, artigos e livros se encarregam de nos lembrar que o fim do mundo ou, como apontam outros, o fim da humanidade - já que o mundo sobreviverá a nós - vem sendo debatido. Discussões sobre o Antropoceno, o pós humano, um interesse especifico pela arqueologia, pelo estudo de restos, escombros e lastros de antigas culturas, sinalizam um horizonte reflexivo comum. Guerras, catástrofes ambientais e pandemia estão no noticiário e já se tornaram assuntos cotidianos. O tema é pesado e triste, mas continua interessante ver como a arte é, ainda, um lugar em que essa tarefa de elaboração simbólica é exercitada.
Nessa breve exposição da qual participam 19 artistas - Andrea Brazil, Bruno Fonseca, Corina Ishikura, David Caicedo, Duda Camargo, Edilaine Brum, Felipe Corcione, Fernanda Pompermayer, Isabela Hirata, Latife Hasbani, Leticia Morgan, maltchique, Meia, Sergio Magno, Sindy Palloma, Tara Perstephonie, Thiá Sguoti, Uma Moric e Zizi Pedrosa - podemos ver um pouco como cada artista recebe e trabalha sobre esse chamado.
Há obras que colocam o luto abertamente. Seus rituais, o impacto das ausências, certo sentimento de solidão. A esses somam-se trabalhos que confrontam a experiência subjetiva da consciência da morte: essa que espera todos no fim do caminho.
Há poéticas que se voltam para o passado, quer seja ele o modernismo ou as formas de vida mais antigas, ditas originárias, lidando com o que deles restou, fragmentos e destinos interrompidos. Volta-se ao passado em muitos sentidos. Na esperança de reavivá-lo; tentando rever, de algum modo, sua precoce condenação; com o compromisso de dar-lhe outro lugar na narrativa histórica... Ou mesmo volta-se a ele como único material possível em um mundo em ruínas.

O corpo que surge dessa imersão não é o mesmo. Um certo hibridismo aparece quando olhamos no espelho: formas minerais, vegetais, animais e mesmo robóticas misturam-se à representação tradicional da figura humana. As velhas categorias atreladas a ela - como masculino, feminino, real, virtual - revelam-se obsoletas.
A paisagem surge indefinida, por vezes desértica e esvaziada, outras vezes em transformação, ocupada por destroços, resíduos, materiais sintéticos e artificiais que sinalizam que o espaço a ser habitado é radicalmente novo.
Num momento em que a ideia de futuro parece demandar, simultaneamente, um deslocamento para o passado, essa exposição apresenta um panorama vasto de questões a serem consideradas e elaboradas coletivamente.

O que a gente faz antes do fim?

David Ribeiro

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[junho de 2024]

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Talvez o futuro tenha deixado de ser uma promessa. Talvez nossas relações tenham se tornado fugazes. Talvez tudo passe rápido demais diante de nós. Me avise antes que acabe, título que demos juntes a essa exposição — que também é fugaz — é o pedido de quem sabe que vive algo bom. Um pedido que expressa aquela vontade de prolongar os bons momentos que vivemos em meio às incertezas, angústias, dores e ansiedades cotidianas. Sinto que também expressa o desejo de que alguém nos diga que algo está prestes a mudar. É o pedido de alguém em busca de calma, de acalento: me avise para que eu tenha tempo de aproveitar o tempo que ainda resta. Me avise para que eu me lembre de viver o presente. Me avise para que eu possa me preparar para o que vem depois.

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Inspirado pelo título da mostra, bem como pelas relações que nós, 24 pessoas, construímos ao longo deste primeiro semestre de 2024, tenho pensado sobre o que a gente faz antes que algo (bom) termine. Porque mesmo que muitas afinidades tenham aflorado ao longo dos nossos encontros às quartas-feiras e que algumas delas já viessem de antes, essa mesma reunião não vai se repetir. E não, isso não é ruim. Por mais clichê que isso soe, algumas finalizações são belas porque nos fazem lembrar que há acontecimentos que nos alimentam e nos engrandecem. As relações que essa mostra corporifica foram mediadas por nossas trajetórias profissionais-pessoais e construíram reflexões fundamentais sobre como pensar e o que fazer sobre/com o tempo que já vivemos e sobre o que temos a viver.

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Todos os trabalhos aqui presentes, individualmente e em conjunto, são muito bem-sucedidos em suas propostas sobre o agora, mesmo que repletos de passado ou de futuro. É muito notável, nesse sentido, o quanto a raiva, o humor, a ternura, o trauma, a memória, o afeto perpassam essas produções e reforçam os nossos vínculos enquanto sujeites que vivem um mesmo contexto. Do mesmo modo, fazem pensar sobre como a nossa vida acontece enquanto a gente espera o derradeiro fim de tudo. Apagar rastros. Apagar o que violenta. Destruir o que rouba o nosso tempo e fragiliza as nossas interações, ainda que muitas vezes as facilite. São gestos que afirmam a possibilidade de uma atitude, poderosa e deliberada, de pôr fim a algo que destrói. Há coisas que é preciso fazer acabar, assim como há memórias que, revividas, são a reafirmação da dor. Há memórias que pungentemente martelam que o fim nem sempre é o fim, e que mesmo depois de tudo se desfazer, há algo que resta a resolver. Outro movimento que também é profundamente
marcante nos trabalhos é o de busca: a procura por vestígios de vida humana ou não-humana, a busca pelo que não está revelado, a busca por conexões entre o tempo e o espaço vividos nos mais corriqueiros gestos do cotidiano. Por fim, nessa dança entre o repelir e o procurar estão as nossas expectativas mais profundas, a nossa relação com as nossas verdades mais íntimas: nossos corpos e as marcas que imprimimos sobre eles (ou as que permitimos que outras pessoas imprimam), as normatizações e as violências que elas representam...

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Antes que tudo isso acabe, gostaria de dizer ainda que meu desejo era escrever sobre o universo de cada um dos trabalhos. Mas isso é impossível, ao menos agora. Por outro lado, pensei em reforçar ainda mais o que (n)os une. Acho que isso também é uma forma de postergar o fim desse ciclo de encontros e de seguir alimentando a admiração que construí pelas trajetórias de vocês.

daqui partimos

Marcos Moraes

[setembro de 2023] 

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Em seus dezoito anos de existência, o Programa de Exposição de Formados em Artes Visuais da FAAP tem buscado ampliar sua dimensão de reconhecimento e valorização da arte, reunindo e levando a público a produção de estudantes que finalizaram esses cursos.

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Após o hiato decorrente da pandemia, retomar o Programa - reconhecido por sua longevidade e constância - reafirma, mais uma vez, a compreensão pela Instituição das práticas artísticas contemporâneas como elemento fundamental nos processos culturais e em seu papel significativo na formação, não apenas profissional, mas da sociedade.

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As artistas aqui apresentadas participam de sua primeira mostra coletiva fora do ambiente acadêmico, marcando assim o começo de suas trajetórias profissionais. Cada uma delas explora linguagens e processos, mesmo os considerados já tradicionais, como a pintura e o desenho, ou outros que incorporam investigações inerentes aos processos experimentados ao longo da graduação, como aqueles relacionados a tramas e tecidos, ou ainda aqueles que se valem de práticas artísticas como as colaborativas e participativas.

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Os trabalhos evidenciam a bagagem adquirida ao longo dos anos de estudo, experimentação e desenvolvimento de suas práticas e afirmam as possibilidades de convivência e de trocas de experiências entre esse grupo de recém-formadas e entre elas e a comunidade de estudantes, professores, artistas residentes e técnicos, com os quais se relacionaram ao longo desse período.

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A produção desse conjunto de artistas apresenta sistemáticas próprias de pesquisa em conformidade com a elaboração de caminhos particulares de desenvolvimento percorridos por cada uma delas, e revela o cruzamento e a fusão de mídias e linguagens, assim como a investigação e a presença de conteúdos de diversas áreas do conhecimento, transversalizando suas produções.

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daqui partimos, nas palavras de suas participantes, significa "pôr-se a caminho; dividir-se em partes; ir-se embora; ter seu começo...". A ideia, assim, é compartilhar instâncias para além das salas de aula, ateliê, oficinas e estúdios, extramuros do centro universitário, e agora no espaço da galeria e no tempo da exposição. Uma experiência que ultrapassa a formação e a produção, disseminando-se pela difusão dessa, que se abre aos olhares do público.

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Ao propor caminhos para facilitar a visibilidade do adensamento nas questões, originalmente trabalhadas pelas artistas ao longo de sua permanência nos Cursos de Artes Visuais, a Fundação e o Centro Universitário, superando uma mera condição de atividade institucional, propõem que a exposição possa ser percebida como uma reafirmação da importância identificada como foco de atuação da FAAP: a arte e a cultura.

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Em tempos de revisão sobre a atuação do ser "civilizado" e sua relação com outras formas de vida que compõem a natureza - da qual somos parte integrante, e não mero observadores, ou agentes - o "pôr-se a caminho" e lançar-se na aventura do mundo é uma necessidade de refletir, atuar e participar dele, agora também na qualidade de profissionais.

AMBIENTE DE INVESTIGAÇÃO E PROVOCAÇÃO ARTÍSTICA, ANUAL DE ARTE FAAP ABRE AO PÚBLICO NO DIA 30 DE NOVEMBRO
ArtSoul
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[Novembro de 2022]
 
Mostra já consagrou vários artistas e reúne trabalhos em diversos formatos
 
Uma das mais tradicionais mostras coletivas de arte contemporânea do circuito paulista, a Anual de Arte FAAP retoma as atividades após dois anos de interrupção provocada pela pandemia de Covid-19. Com abertura ao público prevista para 30 de novembro, a exposição reunirá, em sua 52ª edição, trabalhos em diferentes linguagens, como pinturas, desenhos, vídeos, videoperformances, gravuras, fotografias, publicações, entre outros.
 
As obras foram desenvolvidas por estudantes do Centro Universitário FAAP, que participaram do processo de seleção que considerou, entre vários critérios, a potencialidade dos trabalhos, as referências utilizadas, além da ampliação e superação desses referenciais.
 
O coordenador dos cursos de Artes Visuais da FAAP e integrante da Comissão Organizadora, professor Marcos Moraes, explica que "a iniciativa tem como objetivo ser um espaço de reflexão sobre os possíveis rumos da produção contemporânea, privilegiando a experimentação e o potencial criador dos artistas, sendo também um ambiente de investigação e de provocação artística."
 
Para o professor e artista Thiago Honório, que integrou a comissão de seleção, a exposição é um espaço privilegiado para os estudantes apresentarem seus processos, pesquisas e obras em desenvolvimento. Segundo ele, o público poderá ver uma  variedade de linguagens, materiais e técnicas.
 
"Sem reduzir a uma discussão meramente temática, é possível dizer que muitas das produções que estarão na mostra refletem esse período de reclusão e de gravidade pelo qual passamos durante os dois últimos anos", completa.
 
Visão também compartilhada pela artista e também professora, Aline van Langendonck, outra integrante da comissão de seleção. Para ela, os trabalhos trazem um caráter intimista, com uma intensa presença do universo particular dos estudantes. "Também é possível dizer que há uma presença massiva de mulheres nesta edição, além de uma diversidade de estudantes dos outros cursos da FAAP, além dos cursos de Artes Visuais",  destaca.
 
A exposição contará com outra sala na qual serão exibidos trabalhos de artistas formados pela FAAP nos dois últimos anos e que não puderam participar devido à interrupção decorrente da pandemia. Nesse espaço, serão apresentadas seis obras selecionadas.
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link de acesso [access]https://artsoul.com.br/revista/eventos/exposicao-52-anual-de-arte-faap
 

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